Endometriose é caracterizada pelo crescimento estrogênio-dependente de tecido endometrial fora da cavidade uterina1. A prevalência exata é desconhecida, porém estima-se uma taxa de 2 a 10% das mulheres em idade reprodutiva.2
As principais queixas são dor e infertilidade.2 Está presente em 70-90 % das mulheres com queixa de dor pélvica3 e em 50 % dos casos de infertilidade em mulheres.2
O tratamento pode ser cirúrgico ou medicamentoso e o principal objetivo é o controle da dor e impedir o crescimento das lesões1, não há estudos comparando o tratamento cirúrgico com o medicamentoso, portanto não há como demonstrar superioridade de um em relação ao outro.3
As principais opções terapêuticas são:
Anti-inflamatórios não hormonais (AINH):
Primeira linha de tratamento no controle da dor3, porém, não há evidências científicas da sua eficácia.1
Contraceptivos hormonais combinados:
Frequentemente, a primeira linha de tratamento hormonal e são eficazes na diminuição da dor.1,2,3
São muito utilizados devido ao baixo custo, fácil administração, boa tolerabilidade e efeito contraceptivo.1,2
A administração contínua é melhor do que a forma cíclica para a redução da dor.4
Progestagênios:
Disponíveis em diferentes vias de administração como oral, transdérmica e intrauterina, estão se tornando populares no tratamento da endometriose.1
Estudos observacionais com acetato de medroxiprogesterona, acetato de noretindrona e didrogesterona demonstrou uma redução na dor em torno de 70 a 100%.
O dienogeste possui alta especificidade aos receptores de progesterona e menor efeito antiandrogênico.1 Além disso, estudos concluíram que seu efeito é superior ao placebo e eficácia semelhante ao analógo de GnRH.3 É bem tolerado e efeitos como sangramento irregular melhoram com o tempo de uso.1
O sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU- LNG) é uma outra abordagem terapêutica para endometriose e apresenta sucesso no controle da dor e altas taxas de satisfação das pacientes.1 Também são eficazes em pacientes com adenomiose e endometriose profunda retovaginal.1 O seu uso a longo prazo é seguro, significante diminuição da extensão da doença e quando inserido após a laparoscopia reduz os sintomas de dismenorreia.3 Além disso, o efeito no alívio da dor é semelhante ao análogo de GnRH.4
Outra via de administração é o implante subdérmico e apesar do relato de melhora da dor nas usuárias desse método contraceptivo, mais estudos são necessários para confirmar a sua indicação para o tratamento da endometriose.1
Agonistas de GnRH:
Resultados promissores no tratamento de endometriose como alívio dos sintomas e redução dos implantes visualizados em laparoscopia. Possuem menos efeitos colaterais quando comparados com os agonistas de GnRH.1
Antagonistas de GnRH:
Resultados promissores no tratamento de endometriose como alívio dos sintomas e redução dos implantes visualizados em laparoscopia. Possuem menos efeitos colaterais quando comparados com os agonistas de GnRH.1
Danazol:
Efetivo no tratamento da dor, porém é pouco tolerado pois causa sintomas de hiperandrogenismo como hirsutismo, acne e ganho de peso.3
Inibidores da aromatase:
Mais estudos são necessários3, portanto só devem ser prescritos após a falha de todos os tratamentos.2
Outros tratamentos demonstraram melhora da dor como reabilitação pélvica, psicoterapia, analgesia com drogas neurolépticas, acupuntura e medicina chinesa3, porém mais estudos são necessários para melhor determinação dos riscos e benefícios.2
A combinação da laparoscopia e a análise histológica das lesões é o padrão ouro do diagnóstico da endometriose2. Todas as lesões observadas precisam ser tratadas e a melhor técnica não é bem estabelecida. A proporção de pacientes com melhora da dor após a cirurgia é maior nos casos de endometriose3
O tratamento cirúrgico seguido de medicação proporciona um maior tempo de alívio dos sintomas do que apenas a cirurgia.3
A endometriose é uma doença crônica que interfere negativamente na qualidade de vida da mulher, necessita de um tratamento contínuo e possui altas taxas de recorrência. Com o melhor entendimento da fisiopatologia da doença, novas estratégias de tratamento estão sendo desenvolvidas com a esperança de evitar efeitos indesejáveis e eliminar as lesões sem afetar a função ovariana.1
Referências
- Rafique S, Decherney AH. Medical management of endometriosis. Clin Obstet Gynecol. 2017;60:485-496.
- Dunselman GA, Vermeulen N, Becker C et al. ESHRE guideline: management of women with endometriosis. Hum Reprod 2014;29:400-412.
- Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine. Treatment of pelvic pain associated with endometriosis. Fertil. Steril. 90 (Suppl.), S260-S269 (2008).
- Zorbas KA, Economopoulos KP, Vlahos NF. Continuous versus cyclic oral contraceptives for the treatment of endometriosis: a systematic review. Arch Gynecol Obstet. 2015;292(1):37-43
- Petta CA, Ferriani RA, Abrao MS, et al. Randomized clinical trial of a levonorgestrel-releasing intrauterine system and a depot GnRH analogue for the treatment of chronic pelvic pain in women with endometriosis. Hum Reprod. 2005;20(7):1993-1998